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Valores de vida para um novo ano

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A invenção da contagem do tempo fez com que a humanidade passasse a dividir a vida em ciclos. Horas, dias, meses, anos, décadas, séculos, milênios. De todas as maneiras existentes para contar o tempo, o ciclo que mais impacta as nossas vidas é o ano. Ele não é curto como um dia ou um mês nem tão longo como uma década e um século. É um período significativo em que uma variedade de acontecimentos podem se estabelecer.

Estamos a poucos dias de fechar mais um ciclo. É comum que essa época seja usada para a reflexão do que funcionou nos últimos 365 dias – 366 no caso de 2020 – e o que pretendemos mudar para o próximo ano. Objetivos e expectativas são criados. O que não foi feito nos últimos 12 meses ganha uma nova oportunidade para se concretizar.

Mas quantas vezes criamos novas diretrizes e fracassamos na hora de colocá-las em prática? O começo é empolgante, é um novo ano e desejamos recuperar o tempo perdido. Aos poucos, as dificuldades aparecem, a vontade arrefece até desaparecer. No fim, quando dezembro retorna, notamos que pouco do planejado foi cumprido.

Em muitos momentos falta comprometimento para colocar em prática o que foi idealizado. Ao elaborarmos novos objetivos, esquecemos de pensar em como encaixá-los na rotina. Projetar os próximos 365 dias é salutar, mas o ponto central está na pergunta que é feita. O trivial é responder o que queremos fazer. A reflexão fica mais complexa quando tentamos responder as seguintes questões: que pessoa eu gostaria de ser no próximo ano? Com o que quero me comprometer? Ou ainda, qual o meu propósito para o ano que se inicia?

Fica claro como o modo de pensar precisa mudar para se chegar às respostas de cada pergunta. A partir do momento em que pensamos sobre quais valores queremos cultivar, podemos pensar de forma prática como se comprometer com eles. Pensar em valores é uma maneira de deixar as metas mais palpáveis. Uma estratégia eficaz para colocar essa reflexão em prática é criar uma Carta de Valores.

Ações valorizadas

Os valores são uma maneira de ser na vida. Eles significam a direção que damos a algo que é importante para nossa vida pessoal. Está conectados com o que traz sentido à nossa vida, seja no âmbito dos relacionamentos interpessoais, profissionais ou no nosso estilo de vida, resultando em uma maior qualidade de vida. Os valores fazem parte das tomadas de decisões que influenciam a experiência de vida no momento presente.

Ter conhecimento dos próprios valores permite ter uma relação diferente com os objetivos criados. Orientados pelos valores, transformamos a ansiedade e o estresse, inerentes à busca por algo, em escolhas e ações valorizadas. Essas ações nos fazem ir em busca do que a vida deve representar para cada um diariamente.

Valores e objetivos são diferentes

É comum confundir valores com objetivos. Embora se relacionem, eles são diferentes. A distinção entre os dois está no foco de cada um deles.

O objetivo olha para o futuro. A situação atual não agrada e se vai atrás de como gostaríamos que ela fosse. O momento presente é desvalorizado. Quando a meta é alcançada, fica a sensação de que o ponto final foi atingido.

Os valores possuem outra dimensão. O cerne deles está no presente, no aqui e agora. É ter empenho e participação em atividades valorizadas que nos aproximam da pessoa que gostaríamos de ser. Eles são uma bússola que indica o nosso norte. Enquanto os objetivos têm uma linha de chegada, os valores são ilimitados. Funcionam como um imã com a capacidade de aglutinar objetivos. Trata-se do processo para atingir as metas, de como agregar significado à nossa experiência. É aproveitar a jornada.

O tempo é subestimado

Tomar consciência dos valores é o processo em si. O grande vilão para que as metas traçadas fiquem pelo caminho chama-se tempo. O esforço para mudar algo e o período que leva para solidificar a mudança são subestimados. A expectativa é que os objetivos sejam atingidos com naturalidade, sem esforço. 

A disposição para mudar é influenciada por propriedades reforçadoras e punitivas do comportamento. A tendência é que o esforço para mudar seja valorizado somente quando a recompensa é maior que as dificuldades. Pensamentos e emoções negativos estarão presentes na rota da valorização. É impossível fugir deles.

Os valores funcionam do mesmo modo como se atira com arco e flecha. Uma mudança sutil no posicionamento do arco (base) gera uma grande diferença lá na frente onde está o alvo. Mudanças sutis na caminhada podem nos afastar dos valores traçados. O que não significa que os valores não possam ser modificados com o passar do tempo. As mudanças fazem parte do processo de valorização. 

Evitação

Refletir sobre nossos valores é uma tarefa difícil. As experiências negativas podem reforçar  o comportamento de evitação. Essa é outra vantagem quando há comprometimento. Se comprometer não é acertar o tempo todo. Se comprometer é uma intenção, um processo. O comprometimento não é o resultado de uma tentativa. Ele é o processo. Os erros e recaídas vão surgir. São necessários para que hábitos sejam quebrados. As inconsistências inerentes ao desenvolvimento não podem ser enxergadas como falhas ou fracassos.

Carta de valores

Redigir uma Carta de Valores projetando o próximo ano tem como objetivo proporcionar uma autoavaliação capaz de gerar um direcionamento e a descoberta daquilo que tem valor para você. Diferentemente de uma lista de objetivos, onde são listados desejos, a Carta tem uma elaboração um pouco mais complexa. É preciso encontrar um tempo para si e refletir sobre a vida.

Muitas vezes é necessário um período mais longo para confeccionar a Carta de Valores. Será preciso cavar mais fundo para fazer os valores aflorarem. Pode ser que a elaboração dure alguns dias. Tenha em mente que quanto maior a riqueza de detalhes, maiores são as chances de ela funcionar. Coloque no papel suas emoções e pensamentos. Não afaste aquilo que perturba a sua cabeça. Transforme em palavra escrita todos os conceitos e reflexões. Escreva de maneira livre. Tente não interromper seu fluxo de ideias. 

Busque encontrar respostas para as seguintes questões: 

  • Como é a pessoa que eu gostaria de ser?
  • Quais valores norteiam minhas decisões e comportamentos? Assim, você descobrirá o que realmente importa para você.
  • Faça uma hierarquia desses valores.
  • Escreva algumas linhas para cada um dos valores. Reflita sobre os motivos de suas escolhas.

Não se preocupe se os pensamentos são desconexos. O importante é tirá-los de dentro de você e colocá-los no papel. Não dê importância se eles não emergirem instantaneamente – dificilmente acontece. Leve o tempo necessário para que os seus valores fiquem claros para você. Se estiver sendo muito difícil, faça o exercício por dois ou três dias seguidos. Esse será o primeiro passo do seu comprometimento.

Então, você está pronto para se comprometer com o seu 2021?

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Francieli Krug

Francieli Krug

Sou psicóloga formada pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS e pós-graduada em Terapia Cognitivo Comportamental pelo InTCC. Atuo como psicóloga clínica em atendimentos presenciais e on-line voltados para adolescentes e adultos.
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