Tom Jobim já dizia que fundamental é mesmo o amor. E que é impossível ser feliz sozinho. Será mesmo que o poeta tinha razão? Ou era somente mais um idealista na busca do amor perfeito?
Os relacionamentos amorosos sempre foram uma parte importante da vida humana, mas a maneira como eles se desenvolvem foi se modificando com o passar dos anos. O modo como a vida a dois era levado há décadas e séculos atrás é completamente diferente daquele que levamos no mundo moderno. O amor conferiu a cada época maneiras distintas de expressá-lo e senti-lo.
No mundo ocidental pós-moderno ainda sofremos forte influência do romantismo, que através de um movimento filosófico, artístico e político do século XVIII fomentou ideias contrárias ao objetivismo do racionalismo e do iluminismo. Assim, desde crianças somos expostos a narrativas em que o amor é o eixo principal da nossa vida. Sempre há um casal no meio da narrativa que, ao final, supera obstáculos para ficar junto. Foi assim quando Shakespeare escreveu Romeu e Julieta e segue até hoje na sua série favorita. Como nos oferecem essa ideia do “amor perfeito”, passamos a idealizar desde pequenos a busca pela nossa “alma gêmea”.
Essas influências ajudam a criar dentro de cada um a idealização do amor e de um relacionamento. E, assim, aos poucos, distorcemos a realidade do que é de fato se relacionar com outra pessoa. Fomentamos expectativas elevadas e alimentamos nossas esperanças em nosso parceiro. Buscamos uma sensação de plenitude e satisfação, transferindo para o outro a responsabilidade pela nossa felicidade. Como consequência, nos frustramos com maior facilidade, pois a outra metade da relação também tem suas necessidades e limitações.
Esses estereótipos do amor romântico resultam em casais incapazes de compreender quais são os verdadeiros pontos de conflitos de uma vida compartilhada. Exigimos ter ao nosso dispor uma relação que atenda a todas as nossas expectativas amorosas, preencha todas nossas necessidades emocionais. A necessidade de ser preenchido emocionalmente pelo nosso par fortaleceu a crença de que dentre os bilhões de pessoas que habitam a Terra existe uma “certa” para cada um. Acreditamos que amar é se sacrificar pelo parceiro e perdoar de maneira incondicional, pois aquela seria a “pessoa certa”. Esses estereótipos reforçam a ideia da aceitação incondicional da “pessoa certa”, resultando em submissão e influenciando na manifestação da violência de gênero.
Quando o mais assertivo não é que haja uma pessoa certa para nós. Na verdade, a interação entre o casal é que torna o relacionamento certo ou não. Todos os relacionamentos são construídos. Eles exigem muito diálogo, respeito, empatia, tolerância e compreensão de ambas as partes. E compreensão é diferente de submissão. Se passarmos a ter expectativas mais realistas das relações, podemos ser capazes de experienciar relações mais saudáveis. Por isso falamos em mito do amor romântico, relacionar-se com outra pessoa ultrapassa as ideias expressadas através do romantismo.