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Cultura da desresponsabilização

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A (ir)responsabilidade de influencers na CPI das Bets

A influencer Virgínia Fonseca construiu uma imagem baseada em um estilo de vida luxuoso com seus seguidores. O glamour e o consumismo presentes em suas postagens a tornaram uma figura relevante no mundo digital. Nesta semana, ela depôs na CPI das Bets e trouxe à tona uma nova personagem. Diante dos senadores, portou-se como uma pessoa recatada e comedida. As figuras distintas apresentadas levantam pontos de alerta sobre a construção e a manipulação da imagem e a cultura da desresponsabilização.

A mudança de personalidade reflete o quanto suas ações são performáticas e estratégicas. A imagem mais ousada cedeu espaço para uma figura de moletom com a foto de uma das filhas. Uma imagem que navega entre o ingênuo e o blasé ao se ver questionada sobre sua responsabilização pública por divulgar e lucrar em cima de plataformas de apostas.

Trata-se de alguém com a capacidade de moldar sua imagem para influenciar as impressões que deseja causar nos outros. Postura que se multiplica nas redes sociais. A performance contida assumida por Virginia durante o seu depoimento pode ser compreendida como uma tentativa de dissociação de sua figura influente para adotar a imagem de alguém “desinformado”, “apenas contratado”, “sem má intenção”. A ruptura discursiva serve a uma função defensiva: preservar sua reputação diante da possibilidade de punição moral ou jurídica.

Influencers como Virgínia estabelecem vínculos com seus seguidores e são percebidas como “amigas” ou “familiares”. A falsa proximidade dificulta o julgamento objetivo de suas ações. O fenômeno agrava o problema ético de pessoas famosas promoverem casas de apostas. O poder de persuasão delas é invisível, mas profundamente eficaz. Uma reflexão mais imersiva, ou nem tanto, conclui que divulgadores de bets obtém lucro sobre a vulnerabilidade de outros indivíduos.

A “cultura da desresponsabilização” usada por influenciadores utiliza o carisma como escudo para minimizar a gravidade de seus atos, contando com a simpatia do publico e, no caso de Virgínia, dos próprios senadores. Apostas online são um problema de saúde pública. Geram adoecimento, endividamento, vulnerabilidade, traumas e rupturas nas relações.

O “influenciador” se isenta do papel de “influenciar” como se não envolvesse uma relação de poder simbólica. Reforça uma cultura individualista, insistindo na crença de que cada um seria responsável pelas próprias escolhas, ignorando os contextos sociais, emocionais e econômicos que cercam o comportamento de apostar.

A CPI das Bets não dá espaço apenas para o problema de saúde pública com jogos de azar, mas traz visibilidade para as influências: os limites entre liberdade de expressão, marketing e responsabilidade social nas redes. Negar a gravidade da situação ultrapassa a questão ética. Finge-se não compreender a própria responsabilidade sobre a influência exercida nos outros quando se ganha dinheiro justamente para influenciar.

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Foto de Francieli Krug

Francieli Krug

Sou psicóloga formada pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS e pós-graduada em Terapia Cognitivo Comportamental pelo InTCC. Atuo como psicóloga clínica em atendimentos presenciais e on-line voltados para adolescentes e adultos.
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